domingo, 25 de outubro de 2009

Devolves-me a alma?

Percorro o mar com os olhos na ânsia de chegar ao rio profundo onde morro para ficar mais perto de ti. Os rochedos engolem a claridade dos meus olhos como se o céu se extinguisse neles e na sua inércia desprotegida. Insisto em romper essas cataratas nervosas que me confundem e então… encontro-te.
Sim… lá estás… tu, numa espécie de sinfonia de silêncios sórdidos, a olhar para mim através dos reflexos da água estranhamente azul como o firmamento. Os teus silêncios afogam-se de ironias silenciadas, são corrompidos abruptamente, e chegam até mim através do vento desatento.
De repente vejo-te como se fosses uma onda gigantesca a enfeitar-se de espuma reluzente. Ah… és tu… sim! Vejo-te, céus, que saudade eu tinha tuas…!
Sorris-me e eu arrepio-me. - És tu… ou é a minha necessidade de te encontrar?
Os peixes que moram nos teus olhos fitam-me asmáticos, e eu tenho vontade de os atirar para a água porque não resisto ao seu sufoco arrepiante.
És tu? Ou és a aragem que me açoita a imaginação?
Porque te salgas ainda mais nos meus olhos?
Porque permaneces neles assim… sentada impávida e inerte, como se te fosses atirar de uma rocha perigosamente íngreme?
Ao olhar-te assim nesta ansiedade de gaivota ferida, pareces uma daquelas crianças famintas, com os seus ventres disformes, a olharem complacentes, como se rompessem a minha distracção marmorizada.
E assim, neste sufoco, apenas consigo perguntar-te:

- Devolves-me a alma?

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