segunda-feira, 20 de abril de 2009

Não sei se era a cor da lâmina prata
Ou o sentimento fúnebre que me abatia
Assim como uma qualquer apatia
A esta vida mesquinha e vazia
Que usei, nos meus dois pulsos, essa faca

Não vou mentir a ninguém
O corte dói e continua a doer
Mas a outra dor logo o faz esquecer
Ou será o sangue que de tanto escorrer?
Deixa-te fraco, mas a sentir-te bem

Perto do final, sentes
Sentes algum arrependimento
A falta enorme de qualquer alento
E eternizas cada e todo o momento
Que viverás em tua mente

Então podes apenas deixar
Liberdade de toda angústia
Deixar para trás toda aquela secura
E toda aquela dor, por mais que custe
Liberta-la

Agora não é nada mais que uma brisa
Voando por todos os cantos
Observando todos os santos
Ouvindo todos os cantos
Nada mais que uma brisa

Tu escutas o tanto que era incrível
Teus parentes, teus amores
Todos a quem deixas as dores
E choras ao ver tantas flores
Ninguém me avisou que eu era único e insubstituível
Guardava
A satisfação fúnebre do último acto,
Do ápice poético da minha teatral
Rotina de sobrevivência.

Cada gota limpava as marcas sujas
E malevolamente prazerosas
Das minhas egoístas sensações.
Levava de mim
As lembranças mesquinhas
Da minha bondade dissimulada.

Lentamente eu via o meu pulso
A expulsar o meu espírito da carne.
Tomado de júbilo
Presenciava o fim das dores
Naquele rio vermelho que inundava o piso.

Meu corpo gritava incessantemente
Ao meu espírito:
Volta!
E a Razão sufocava os espasmos deste louco
Falando sussurrante:
“Este é o curso, não há saída
Todos sabem disso.”

Neste momento o rio virou mar
E eu não continha mais a repugna
Daquele sóbrio acto.

Presenciava a mão que apunhalava
Naquela nobre sentença de salvação -
Cristo deu a vida por todos
E eu o faria por mim mesmo.

Já atingi a minha cota de desilusões,
O aprendizado dessa existência.
Não nasci para o sofrimento
Mas fui avultado por ele.
Sem escolha,
Preso ao meu estúpido “livre-arbítrio”,
Escolhi a saída mais simples -
Não errar mais.