segunda-feira, 27 de abril de 2009

Morte Doce Morte

Morte doce Morte
Só mesmo tu, para curar a minha dor
A dor do Amor
Todos a temem, porém a aceitam
Muitas vezes és um alívio
Alívio para o sofrimento da dor.

Morte doce Morte, Tu comandas
Os erros e os acertos;
O amor faz mal... e as vezes faz bem..
Não o sabe ainda
Quem não o teve
E que não sofreu também.

Morte doce Morte, leva embora essa dor
A dor do eterno amor;
Mesmo sem tempo
Leva contigo todo este meu sofrimento;
Mesmo que ainda haja algum contratempo;

Morte doce Morte; não sei se amo
Ou se odeio, sofro em meus anseios
Em meio de pensamentos e desejos
Cujos quais não sei posso ter.

Morte, responde-me se fores capaz.
És inteligente, suficientemente
Para me explicar o motivo de tanta Dor.
Se tu não sabes, leva-me embora,
Pois sofro, sem ao menos ter um porquê.

Vestido de Morte

Visto a negra capa da morte
E preparo o túmulo
Onde depositarás rosas
Vermelhas,
Como os lábios
Que nunca quiseste beijar.

Pertenço-te,
Sem que me queiras,
Como doença maldita
Que desprezas
E afastas,
E mesmo assim
Sinto-me apenas teu,
Enfermo que sou.

Abro as mãos
A novos amores
E esgueiro-me pela porta
Antes do toque inicial,
Como se te traísse,
Como se também tu fosses minha.

Visto a capa negra da morte
E preparo o túmulo
Onde me deito,
Porque já nada mais me importa…
Porque já nada mais me diz respeito...

Post Mortem

Na manhã passada
Abandonei meu lar, meu corpo…
Sim, é verdade, estou morto!
Já fui autopsiado
Passaram a certidão de óbito
Morri de amor prolongado
Agora vejo tudo de fora
Aqueles que me amavam em luto
Vejo aqueles que choram
E desejo tanto tocar-lhes
Dizer-lhes que não morri de facto
Que morrer é só um acto
Que habitarei algures num astro
A observar o mundo sem mim
A observar aqueles que amo
Estarei sempre do seu lado
A morte não é um abandono
É um adorno da vida
Um reforço de identidade
Os que me amavam continuarão a amar-me
E uma ou outra vez me lembrarão com saudade
E os que me odiavam
Também sentirão a minha falta
Também uma ou outra vez
Lembrarão o ódio que me tinham
Quando por acaso de mim se falar nos cafés
Agora, vejo meu corpo deitado
Mãos cruzadas, sorriso nos lábios…
Só me dói ver-vos chorar
A claustrofobia deste espaço
Não, não choreis…
Guardai de mim uma lembrança, um retrato
Usai a vossa memória fotográfica
Não, não quero flores…
Nem importa se a sepultura
É de granito ou de mármore
Guardai só para mim um espaço
Uns minutos que seja num ano
Eu assim vos guardarei de facto
Morto e em luto
É meu luto minha morte
Na verdade, perdi muito, muito mais
Eu perdi todos vós
Vós perdestes um só…

Adeus

Tentas-Te

Tentaste destruir,
Voltei a construir.
Quase mataste o sonho,
No entanto voltei a sonhar.

Destruíste a estrada...Continuei a caminhada.

Como se tudo isso não bastasse,
Abraçaste os meus medos,
Com o intuito de me destruir.
Ganhei força para de novo construir.

Cada vez que destruíste,
Voltei a construir tudo de novo,
Degrau a degrau; tijolo a Tijolo.

Sinto que nasci para isso.
Não para ser vitorioso mas para derrubar obstáculos,
Barreiras que nunca pensei vir a superar.

Agradeço-te, porque na destruição,
Construíste, o que hoje sou.
Entre dor e sofrimento criaste ambição.
Ensinaste a lutar quem nunca lutou.

A Tua única Glória será a tua derrota.
O de teres ajudado a construir,
O que tanto lutaste para destruir.

Metamorfose

O que eu, um dia, fui não serei mais e não sou.
Tem momentos que olho para trás e fico devastado
Ao ver tudo o que por mim passou, assim de rajada,
Como um simples fôlego que sobreviveu e se matou.

Caminho entre as nuvens do que sobrou,
Entre as incógnitas e as gastas pedras da calçada
Contemplo os sussurros destas ruínas, sentado,
Num banco de pedra e de tempo que acabou.

Em metamorfose fiz-me e desfiz-me de mim:
Ri bem alto e calei em segredo;
Gritei tão baixinho e chorei de medo.

Em metamorfose vivi e morri vezes sem mim:
Abri os olhos e ceguei com o que vi;
Dei a alma e sufoquei com o que senti.

E longe de tudo aquilo que eu fui
Fica a certeza de quem sempre serei,
Perto de um passado que se diluí.