segunda-feira, 27 de abril de 2009

Post Mortem

Na manhã passada
Abandonei meu lar, meu corpo…
Sim, é verdade, estou morto!
Já fui autopsiado
Passaram a certidão de óbito
Morri de amor prolongado
Agora vejo tudo de fora
Aqueles que me amavam em luto
Vejo aqueles que choram
E desejo tanto tocar-lhes
Dizer-lhes que não morri de facto
Que morrer é só um acto
Que habitarei algures num astro
A observar o mundo sem mim
A observar aqueles que amo
Estarei sempre do seu lado
A morte não é um abandono
É um adorno da vida
Um reforço de identidade
Os que me amavam continuarão a amar-me
E uma ou outra vez me lembrarão com saudade
E os que me odiavam
Também sentirão a minha falta
Também uma ou outra vez
Lembrarão o ódio que me tinham
Quando por acaso de mim se falar nos cafés
Agora, vejo meu corpo deitado
Mãos cruzadas, sorriso nos lábios…
Só me dói ver-vos chorar
A claustrofobia deste espaço
Não, não choreis…
Guardai de mim uma lembrança, um retrato
Usai a vossa memória fotográfica
Não, não quero flores…
Nem importa se a sepultura
É de granito ou de mármore
Guardai só para mim um espaço
Uns minutos que seja num ano
Eu assim vos guardarei de facto
Morto e em luto
É meu luto minha morte
Na verdade, perdi muito, muito mais
Eu perdi todos vós
Vós perdestes um só…

Adeus

Sem comentários: