terça-feira, 7 de julho de 2009

Eu e mais Eu

…Se eu pensasse duas vezes antes de o fazer, não o teria feito, até porque ela nem me deu nunca a certeza de nada, e os sentimentos quando são verdadeiros, reais, não há dúvidas. Ando sempre neste vai-e-vem entre o desejar e o ter, como se a vida fosse um jogo, uma rotina diária, quase como lavar os dentes, para logo a seguir os voltar a lavar porque já se comeu um doce, ou se bebeu um café.

Hoje fui almoçar a um restaurante italiano. Escolhi massa. A massa foi escolha minha e ficou no prato. Só comi os cogumelos. Enquanto almoçava, pensava que a minha vida amorosa tem sido sempre assim, bem confortável, mesmo nas escolhas inúteis. Tenho uma pontaria para os fracassos como nunca me vi ter com mais nada. Acredito que tudo o que fazemos tem um objectivo, algo que teremos que aprender a ver o que nem sempre acontece e tudo nos passa ao lado. Estar alerta, conseguir permanecer num estado de vigília constante não é nada fácil e dou comigo a tomar decisões contrárias às ideias que me ocupam o pensamento. Ir directo ao pondo fulcral, ao remanescente, às origens do que sou é aquilo a que chamo de devaneios, loucuras incessantes que caminham em socalcos pedregosos e deixam um rasto de desilusão. Mas já consigo vislumbrar uma réstia de luz muito no lusco-fusco de uma vida de tantos erros.
Saiu daqui agora a Vânia, nem conseguiu olhar para mim quando lhe perguntei, com um sorriso aberto e sincero:
_Tudo bem ?
Ela responde sem me conseguir olhar nos olhos.
- Sim, a crise vai-se desvanecendo. Eu insisti e voltei a perguntar:
- E novidades, a vida, tudo igual?
Ela percebeu e continuou evasiva. Perguntou:
- Que se passa, de novo? Estás diferente.
Eu respondo
- Nada! Sou só eu e mais eu...

De frente para o mar, de costas para o sol que surge lentamente, vejo com alguma nitidez, as cores que conduzem o meu olhar ao longo da praia. Não pensar, não querer saber e aproveitar o que os dias me dão. Este é um dia para mim, sem querer saber de nada nem de ninguém. Cometemos um erro prontificando-nos para nos dar às pessoas e nos esquecemos de nós por aí...Há quem se aproveite de tudo o que temos e que lhes faz falta, e quando damos por isso, estamos envoltos em tempestades lamacentas que atrofiam os nossos passos, inundam tudo à sua passagem e desenvolvem certas calamidades, com o simples intuito de apagar o brilho e a luz que as ofusca. Sugam-nos até aos ossos e quando estão saciadas, deixam-nos num estado miserável sem forças para nada. As energias demoram algum tempo a repor, o nosso corpo fica debilitado, e o nosso estado emocional altera-se num registo denso, que só nos trará situações desagradáveis.

Não esperes que continue a dar-me como até aqui, porque decidi que não o farei, sem antes velar por mim. Sou a pessoa mas importante antes de todas as outras, embora todas sejamos importantes. Não te viro as costas se precisares de mim, mas não esperes muito porque eu ando em busca de algo muito maior e ninguém pode dar o que não tem. Aqui neste imenso areal despojo-me da aridez de certas palavras e lanço-as na fluidez das areias finas, ficando a observar de perto a sua desenvoltura. Os minúsculos grãos abrem-se deixando entrar o ar, a água, o calor do sol, os elementos da natureza em comunhão com o ser - o quinto elemento aguarda pelo resplandecer das maravilhas do novo mundo, aquele que está submerso palmilhando os pensamentos...

"texto adaptado de um texto de autoria de Dolores"

1 comentário:

sofia santos disse...

se pexaxes duas vezes antes de fazeres aquilo que tens feito, nao fazias nem metade do que fizes-te ate agora depois de teres deixado de andar com a vanis, nao é verdade nino????
beijo fofo